Se você acompanha a internet assim como eu, deve ter ouvido uma nova “palavra“circulando por aí… Cringe! Isso mesmo.
Essa palavra tem sido usada numa suposta “rivalidade” entre os millenials, nascidos entre os anos 1980 e 1995, e a geração Z, que são os nascidos entre 1996 até 2010.
A galera mais nova usa o termo “cringe” para atribuir a tudo o que eles consideram como vergonhoso ou que tem vergonha alheia relacionado aos mais velhos da nossa geração (sim, sou millenial).
E para não perder o time do assunto, resolvi brincar também, trazendo para o contexto do sexo e sexualidade as coisas que considero como cringe, e situações de vergonha alheia que alguns seguidores responderam lá no meu perfil do Instagram.
Lembrando que meu papel aqui não é o de julgar, mas ajudar a desconstruir conceitos que já estão tão batidos e nos causando a sensação de “vergonha alheia”, rs.
Sabemos bem que a indústria pornográfica, principalmente na nossa geração, nos ensinou de modo bem errado muitas coisas que achamos que aprendemos e que acreditamos fazer parte da vida sexual de todas as pessoas.
E tais aprendizados influenciam várias gerações e contribui para frustração de muita gente.
Abaixo, irei discutir o que considero cringe no sexo em pleno 2023.
● Julgar a mulher pelo seu comportamento sexual – Acho muito cringe, ultrapassado e digno de vergonha alheia, sim. Afinal, com tanta evolução, as pessoas ainda se sentem no direito de julgar a mulher pelo que ela gosta no sexo e se ela transa no primeiro encontro.
● Acreditar que sexo se resume a penetração – Com tantas possibilidades de prazer, informações, produtos eróticos, sexólogos e pessoas falando sobre sexualidade e prazer sexual, ainda existem muitas pessoas que resumem o prazer sexual na penetração, fazendo com que as frustrações se façam presentes em grande parte das transas. É importante se atentar para as diversas possibilidades de estímulos e gostos. Vamos nos permitir mais?
● Se preocupar apenas com o tamanho do pênis como fator determinante para o prazer – Não sejamos hipócritas, sabemos que, para algumas pessoas, o tamanho importa. Porém, é bem provável que isso esteja ligado muito mais à preferência, assim como quem gosta de bunda ou peito grande, do que o prazer em si. Muito mais importante do que o tamanho do pênis na hora da transa, é conhecer outras zonas erógenas e possibilidades de prazer. Isso faz com que as melhores transas vão além do simples bate – estaca ou sexo britadeira. Além disso, a parte mais sensível da vagina fica localizada nos 3, 4 primeiros centímetros. Então, foquem no clitóris e outros estímulos.
● Se submeter a fazer o que não gosta ou tem vontade na hora do sexo somente para agradar – Todo mundo em algum momento quer agradar e surpreender alguém no sexo e está tudo bem. O que não rola é se colocar em situações desconfortáveis e nada prazerosas somente por medo de desagradar, ou medo de dizer o que realmente gosta. Lembrem-se que sexo é troca, e que essa troca precisa ser boa e prazerosa para todos os envolvidos. Agradar só uma parte é bem cringe mesmo.
● Preconceito com homens héteros que gostam de estimulação anal – Sério, até hoje as pessoas ainda se preocupam com a sexualidade e orientação sexual alheia, (como se isso fosse relevante e mudasse algo em suas vidas ) e perdem a oportunidade de aprender novos estímulos e sentir prazer. Já passou da hora de as pessoas conhecerem bem seus corpos e potenciais de prazer, a fim de explorar bem e entender o que gostam e como gostam. O estimulo anal para os homens é uma polemica que vem de todo um machismo estrutural que coloca o homem que é adepto de tais estímulos em um papel de gay ou menos homem por isso. E ainda que o homem em questão seja gay, isso não é ofensa e muito menos um problema. Cuidemos cada um de nossos ânus e todo mundo fica feliz.
● Só querer gozar e não se importar com a outra pessoa – Não estou falando aqui de ficar louco apaixonado logo na primeira transa, o que pode acontecer e tudo bem. Mas estou falando da falta de consciência sobre dividir o momento do sexo. A partir do momento em que nos colocamos para o sexo com alguém, estamos usufruindo de seu corpo e suas habilidades sexuais, e o mínimo que devemos é ter respeito e reciprocidade. Ajudar a outra pessoa a gozar, a sentir prazer assim como gostamos, torna a transa agradável para todos os envolvidos e todos saem felizes. Vergonha alheia de quem simplesmente goza e vira para o lado. Dar o mínimo de atenção é bom e todo mundo quer.
● Acreditar que toda mulher goza igual e que jorra litros de líquido – Sim, minha gente… tem muita gente que ainda acredita nisso. E o que falei lá no início do texto sobre a influência da pornografia tem relação direta com essa ideia de padronização do sexo. Acreditar que todas as pessoas e principalmente as mulheres gozam igual é estar limitado somente ao estilo de sexo do pornô. Ao levar em consideração a diversidade de corpos, de prazer, de bagagem e repertório sexual das pessoas, entendemos que cada pessoa é única também no sexo. Já pensou que coisa chata todo mundo transando e gozando igual? Além da ideia errada de que para gozar = chegar ao orgasmo, a mulher precisa necessariamente jorrar litros. Muito do que vemos nos filmes pornôs conta com atrizes e encenações para prender a atenção, mas não acreditem em tudo o que veem no entretenimento. Já sabemos que existe a ejaculação feminina, existem vários estudos sobre o assunto e, até o momento, são unanimes em dizer que para sentir prazer e chegar ao orgasmo, a mulher não precisa esguichar ou até mesmo sair liquido algum, afinal o orgasmo é uma resposta sensorial do corpo e não depende de ejaculação.
● Por último e não menos importante - O que considero mais cringe é a capacidade das pessoas em serem preconceituosas em relação às praticas e orientações sexuais alheias. Além de grande hipocrisia, uma vez que o Brasil é um dos países que mais mata travestis e é, ao mesmo tempo, um dos maiores consumidores de pornografia em que as travestis se fazem presentes. É muito além de cringe toda a homofobia, falta de respeito à diversidade e violência em relação as pessoas que fogem do padrão cis heteronormativo.
Minha ideia com o texto de hoje é brincar com o termo da moda mostrando o outro lado para que as pessoas possam se questionar e se permitir a desconstrução.
Vamos brincar de ser cringe em outras questões, mas que tal se permitir mudar tudo de cringe em relação ao sexo que temos até hoje?
Se joga e goza!