Dor durante o sexo

04/11/2023 às 10:15:23 (há 1 ano)
Saúde

Vamos falar sobre dor durante o sexo? Muitas de nós, mulheres, crescemos com uma crença errônea sobre o fato de que suportamos mais dor que os homens.

Sempre dizem que toleramos várias dores e que é assim mesmo. Já na primeira menstruação ouvimos que é normal sentir cólicas e que elas são mesmo mais fortes no início e que basta tomar um remedinho.

Quando falamos de primeira relação sexual que envolva penetração, também ouvimos que é normal doer bastante na primeira vez e que aos poucos vamos nos acostumamos.

Não nos é ensinado nada sobre estimulação adequada, relaxamento, etc.

Ao reclamar de dor ou desconforto já depois de ter tido as primeiras experiências sexuais, somos orientadas a “tomar um vinhozinho” para relaxar ou pensar mais em sexo.

Mulheres são ensinadas que desde a primeira menstruação iremos sentir dor e que damos conta disso.

Essa crença de que somos tolerantes a dor na verdade contribui para vários problemas de saúde e problemas sexuais, além de dificultar possíveis diagnósticos.

 

Sentir dor não é normal

Mulheres com endometriose, por exemplo, tendem a ter o diagnóstico tardio justamente por sempre sentirem cólicas fortes durante o período menstrual e considerarem normal.

Com isso, tomam um analgésico e ‘seguem a vida” sem se darem conta de que nem no período menstrual devemos sentir dor e que não é normal.

Mulheres são pessoas, humanas, e como tal não foram feitas para sentir dor, e isso também se aplica ao sexo.

Quando falamos de dor no sexo não ser normal, me refiro a dores que não tem relação com práticas BDSM.

Aqui estou falando de dores que, de fato, causam desconforto e não o prazer.

Mas antes, vamos entender o que é a dor e porque ela é necessária.

 

O quinto sinal vital

A dor é uma sensação desconfortável que serve para nos alertar de que algo não está certo com nosso corpo ou com alguma região dele.

A função dela é chamar nossa atenção e mostrar que algo deve ser investigado e tratado.

Ela é considerada nosso quinto sinal vital, e é uma categoria sensorial que gera sofrimento ao ser humano e uma grande preocupação desde o início da civilização.

Sabendo agora que sentir dor não é normal em nenhum contexto de vida, o questionamento que fica é: Por que aceitamos sentir dor no sexo?

 

O objetivo da dor é nos sinalizar algo

Talvez porque coletivamente exista uma ideia machista de que, se não conseguirmos garantir uma frequência e qualidade sexual em nosso relacionamento, nossos parceiros nos trocarão por outra pessoa?

Ou porque a crença de que, se as mulheres conseguem suportar a dor do parto, elas conseguem suportar qualquer dor?

Vamos trazer a atenção aqui e reforçar que o objetivo da dor é nos sinalizar sobre algo.

E que se no contexto do parto a dor é “aceitável” é porque sabemos que é temporária, e que caso ela se prolongue, um problema estará instalado ali.

 

O mecanismo de defesa do cérebro

Agora falando de dor no sexo, que é a minha praia, é muito comum mulheres de várias idades me procurarem para atendimento acreditando que sempre sentiram dor no sexo e que era normal, mas que agora não conseguem mais.

Também atendo mulheres que me procuram porque se queixam de sua libido que anda baixa, e ao investigar bem todo o contexto de vida, sexual e de relacionamento, vemos que essa mulher sentiu dor na hora do sexo desde sua primeira experiência e achava normal, ou passou a sentir em determinado momento e não deu a devida importância.

Se na hora do sexo, o momento que deve ser propício ao prazer e relaxamento, se torna sofrido e acumula memórias negativas de dor, em algum momento o desejo sexual será afetado.

Como um mecanismo de defesa, o cérebro entende: “Opa, tem algo errado! Você sempre sente dor e isso é desconfortável, então nada de ter libido para você sofrer”.  E aqui se instala o ciclo de dor que vem acompanhado de dificuldades para chegar ao orgasmo, baixo desejo sexual, baixa autoestima, ansiedade por temor de desempenho e problemas conjugais.

 

O ciclo da ansiedade

O mais chocante de tudo isso é saber que alguns médicos que não tem o atendimento humanizado e com a visão da importância da sexualidade para as pessoas, indicam uso de lubrificantes e até mesmo anestésicos para que as mulheres possam ter relações sexuais mesmo relatando dor.

O que é prejudicial do ponto de vista da saúde sexual, pois a mulher pode até não sentir dor, mas ao não sentir o prazer, que é o que se espera de uma relação sexual, ela não sai do ciclo de ansiedade e, novamente, a libido é afetada.

Se forçar a ter uma relação sexual desconfortável e que cause dor é um dos piores erros que as mulheres cometem.

Sexo em nenhum contexto deve ser forçado ou feito sem vontade, e tampouco feito com dor.

 

Vaginismo, Vulvodinea, Dispaurenia, Endometriose

A dor na relação sexual precisa ser investigada e trabalhada, pois ela pode nos trazer a mensagem de que há um diagnóstico a ser feito.

Pode ser um caso de vaginismo, vulvodinea, dispaurenia e até endometriose.

É muito importante entender que dor não é normal em nenhum contexto, e no sexo não é diferente.

Ao notar que sente dor em todas ou quase todas as relações sexuais e que isso ocorre com uma frequência de aproximadamente 6 meses, é o momento de procurar ajuda.
Também é importante entender que nem todo médico ginecologista trabalha as demandas de sexualidade.

Nesse caso, é importante que haja um acompanhamento multidisciplinar entre ginecologista, terapeuta sexual, fisioterapeuta pélvico e psicólogo.

 

Qualidade de vida e autoestima

Como a sexualidade é composta por fatores biopsicossociais, o diagnóstico e tratamento também devem ser feitos de modo a tratar o todo, com objetivo de devolver a qualidade sexual, qualidade de vida, de relacionamento e autoestima.

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Lubrificantes não tiram dor, mas são excelentes aliados para uma transa mais confortável e, consequentemente, mais prazerosa.

Excitantes e vibradores também são excelentes para melhorar a excitação e proporcionar ainda mais prazer.

Não sofra sozinha.