Desde 1995, o mês de maio é relacionado ao mês da masturbação, do autoprazer, em homenagem a médica Joycelyn Elders, a primeira secretária de saúde negra dos EUA.
Ela foi demitida em dezembro de 1994 pelo presidente na época Bill Clinton, após defender a inclusão da masturbação na educação sexual escolar. Ironia ou não, ele
“conservador” envolvido em escândalo sexual à época, não concordou com a médica.
Para ir contra esse conservadorismo, a sexóloga Carol Queen organizou o evento.
Masturbate – A – Thon, onde foi então instituída a data do mês da masturbação.
A data não é oficial no Brasil, mas isso não nos impede de falar sobre ela e o tema central.
Joycelyn escancarou um grande tabu que atualmente na pandemia vem sendo discutido.
Com a pandemia, a masturbação foi incentivada e recomendada por organizações médicas e governamentais, uma vez que em tese as pessoas deveriam estar isoladas e evitando encontros.
Eu defendo e sempre defendi a masturbação mesmo antes de trabalhar com sexualidade, por entender que ela faz parte de um processo de desejo e descoberta natural do nosso próprio corpo.
Eu sempre fui a “mente poluída” do meu grupo de amigas, pois sempre falava claramente sobre o assunto e sobre questões da sexualidade (será que já era um sinal? rs).
A masturbação é excelente para o auto prazer e principalmente para nos conectarmos com nosso corpo e aprender sobre ele.
Homens e mulheres se masturbam, e geralmente os homens são maioria na prática, afinal já sabemos de toda a dinâmica do tabu em relação ao prazer e corpo feminino e toda a negligência sobre a sexualidade feminina.
Há registros desde a Grécia antiga e Egito da masturbação em pinturas e esculturas.
O que sabemos é que quanto mais o sexo foi associado a reprodução e matrimonio, mais a masturbação foi desaprovada e colocada como grande tabu.
Sabiam que pessoas que se masturbavam eram elegíveis a pena de morte junto com homossexuais e os blasfêmios? Isso acontecia no século 17.
Mas logo depois houve todo um trabalho anti-masturbação.
Nos séculos 18 e 19, foram criados até acessórios e aparelhos que impediam a masturbação, como anéis penianos com garras por exemplo, de modo a evitar uma ereção continuada.
Nessa época alguns médicos afirmavam e descreviam a masturbação como causadora de problemas e vários sintomas.
Entre eles: vício, cegueira, convulsões etc.
Já lá pelo século 20, pesquisadores muito importantes para os atuais estudos da sexualidade, Master & Jhonson e Alfred Kinsey, trouxeram dados relevantes sobre os comportamentos sexuais dos nortes-americanos.
Eles revelaram, com números, que a masturbação se faz presente em grande parte da vida das pessoas independente de ter parceiros, frequência ou satisfação sexual.
Quando falamos de relações, ainda que sejam em sexo casual, as relações são desejadas pela troca e interação entre as pessoas envolvidas, além da diversidade de estímulos.
Ela não necessariamente se encaixa como uma atividade compensatória, mas complementar.
Ela é uma prática que inclusive hoje é defendida e indicada pela OMS como fonte de prazer nesse momento em que vivemos a pandemia do Corona vírus.
O mais irônico é saber que foi numa conferência da OMS que a médica Joycelyn Elders defendeu a masturbação e isso lhe custou sua demissão.
Muitas pessoas me questionam se o hábito de se masturbarem não fará com fiquem viciadas e até percam o interesse pelo sexo.
Outras, dizem que não sabem ao certo como fazer (geralmente mulheres), e isso só comprova e reforça o quanto de tabus ainda estão presentes quando falamos de masturbação.
Não faz sentido tanto tabu relacionado a algo natural e que diz respeito somente a nós e nosso corpo.
Tudo que permeia o corpo no contexto do prazer acaba se tornando tabu e meu papel aqui é te ajudar a se livrar dessas crenças que atrapalham você, sua vida sexual e seu relacionamento.
Devemos acender a luz de alerta em situações em que a pessoa deixa de fazer suas atividades rotineiras, onde seu cotidiano é comprometido.
Havendo dificuldade para se concentrar, dificuldades na interação familiar e com amigos, dificuldades em ter lazer ou caso apresente lesões nos genitais provocadas no intuito de sentir prazer, é o momento de buscar ajuda profissional por ser sinal de possível sofrimento.
Assim como tudo na vida, precisamos de sabedoria e equilíbrio e com a masturbação não seria diferente.
O que não podemos é rotular um ato tão importante para autoconhecimento e autoprazer como algo que só traz danos e totalmente pejorativo.
Naturalizar a masturbação só traz benefícios as pessoas praticantes além de livrá-las da culpa do auto prazer e levá-las a ter relações sexuais mais prazerosas, além de contribuir para o aumento de repertório sexual que, como consequência, ajuda o casal que está em processo de habituação e com a relação morna por causa da rotina.
Esse processo de naturalização precisa incluir o fato de que as meninas também se tocam e não somente estimular os meninos a manipularem seus pênis.
É muito importante desconstruir a ideia de que mulheres não sentem prazer nem tem vontade de transar ou se masturbar.
Esse tabu principalmente sobre a masturbação e corpo feminino contribui para possíveis disfunções e inadequações sexuais na vida adulta pela falta de autonomia, conhecimento e pelas crenças impostas de modo errado, preconceituoso e pautado no medo.
Além de proporcionar autoconhecimento, ela é indispensável para a busca de satisfação sexual.
Aproveite não só o mês de maio, mas sempre que possível entre em contato com seu corpo e com seu prazer.
Ou vai querer continuar aí com esse sexo meia boca? Você merece muito mais prazer.
Se joga e goza!