Para começar esse papo sobre lubrificação íntima, eu preciso deixar bem claro que, mesmo eu estudando e trabalhando com sexualidade há mais de 10 anos, já fui preconceituosa com o uso de lubrificantes.
Em determinado momento da minha vida, precisei fazer um tratamento ginecológico muito comum e simples, mas que me trouxe um ressecamento vaginal.
Na época eu fiquei chateada e lembro de ter dito ao meu marido: “não quero que toda transa nossa tenha lubrificante! Quero minha lubrificação natural!”
E hoje vejo quanta ignorância e preconceito nessa fala (rs).
Mas também sei que esse foi, ou ainda é, o pensamento de muitas mulheres. Por isso resolvi trazer o assunto para vocês.
Usar lubrificantes não é demérito algum e nem tampouco significa que somos inferiores.
Mais uma vez: da nossa falta de educação sexual e conhecimento do próprio corpo.
Temos a ideia de que a lubrificação íntima está totalmente atrelada a excitação e performance, e caso algo saia desse roteiro, já imaginamos um problema.
Na nossa referência sexual vinda do pornô, achamos que aquele tipo de lubrificação é o normal e o ideal de todas as mulheres e esquecemos de um detalhe:
Nossos corpos têm suas próprias particularidades.
A lubrificação da vagina vem de 3 fatores diferentes.
O colo do útero tem em seu interior várias glândulas produtoras de muco.
Quando estamos no período fértil o muco é produzido em maior quantidade e se torna mais fluido, dando ao espermatozoide melhores condições para entrar no útero e fecundar o óvulo.
A produção de muco pelo colo uterino depende de um hormônio chamado estrogênio que, em quantidades adequadas no organismo, mantém a produção de muco.
Na menopausa, e em outras condições clínicas em que a produção do estrogênio diminui, as glândulas presentes no colo uterino diminuem em quantidade e a quantidade de muco se torna muito pequena.
Por este motivo é muito comum as queixas de mulheres nesse período sobre ressecamento vaginal, desconforto e até dor na relação sexual.
A nossa vagina tem grande quantidade de vasos sanguíneos em suas paredes, com características diferentes das outras artérias e veias do corpo, que é a capacidade de secreção de transudato.
A maior parte da lubrificação vaginal tem origem deste transudato, ou seja, da secreção que a própria vagina produz.
Quando estamos excitadas, temos um aumento da vascularização da pelve e da vagina, fazendo com que aumente a nossa lubrificação vaginal.
As glândulas de Bartholin são também conhecidas como glândulas vestibulares, e ficam localizadas na parte lateral e inferior na entrada da vagina.
A função das glândulas de Bartholin é produzir fluido para lubrificar a entrada da vagina durante as relações sexuais.
Mas, ao contrário do que pensamos, elas não contribuem de maneira significativa para a manutenção da umidificação da vagina no dia-a-dia.
Ou seja, ainda que tenhamos um par de glândulas que produzem parte da nossa lubrificação, nem sempre essa lubrificação é suficiente.
Também é importante descontruir essa ideia de que a mulher só está excitada se estiver lubrificada e vice-versa.
Por questões hormonais, emocionais, anatômicas, etc. podemos estar sim excitadas e, ainda assim, não conseguirmos nossa lubrificação.
Ou ainda, podemos “perder” a lubrificação no meio do caminho sem necessariamente perdermos a excitação e a vontade de transar.
O que ocorre é que o uso de lubrificantes se faz necessário justamente para nos ajudar nesse processo, já que muitas vezes a lubrificação pode não ser suficiente para uma transa longa.
Pensar que não ter lubrificação é um problema de excitação é um equívoco.
Pacientes oncológicas, por causa dos tratamentos de quimioterapia e radioterapia, também sofrem com ressecamento vaginal e, ainda assim, muitas têm vontade de transar e se excitam normalmente. Mas não conseguem a lubrificação natural.
Logo, cabe a nós nos abrirmos e entendermos que o lubrificante é nosso aliado e deve fazer parte da nossa rotina sexual, estando presente dentro de nossa necessaire do prazer ou de nossa cabeceira.
Assim como temos produtos de cuidados com a pele, cabelo, unhas, entre outros, também devemos ter produtos de cuidados íntimos com nossa vagina e com nosso sexo.
O lubrificante deve inclusive estar sempre em fácil acesso, justamente para não desanimarmos de ter que procurar lá no fundo da gaveta e, com isso, “perdermos o time” na transa.
Ir para uma transa sem lubrificação íntima ou se forçar a continuar uma transa que perdeu a lubrificação, sem usar o lubrificante íntimo, pode desencadear fissuras que, por consequência, podem facilitar infecções na vagina.
E isso, no longo prazo, pode contribuir para uma possível disfunção sexual de dor.
Em atendimento, várias mulheres me procuram com a queixa de dor na relação sexual e, quando investigamos um pouco mais a fundo, é uma questão mais simples do que parece:
Falta de lubrificante íntimo!
Lembrando que as disfunções sexuais femininas de dor devem ser investigadas e acompanhadas por um profissional, e nem todo caso é resolvido apenas com lubrificante.
Mas uma parcela significativa vem com os mesmos conceitos e preconceitos que citei no começo do texto.
Não podemos também esquecer que, para termos uma boa lubrificação íntima, temos que beber bastante água.
Isso mesmo! Água!
A nossa vagina tem uma mucosa, e mucosa precisa estar hidratada para se lubrificar.
O uso do lubrificante também é indicado na masturbação.
Ainda que não seja a masturbação com penetração, mas para explorar a parte externa da vulva: lábios, clitóris, púbis, etc, a gente precisa de um toque macio e deslizante e, por serem regiões mais secas por não terem mucosas, o lubrificante íntimo é bem-vindo.
Agora uma coisa indispensável para nossa lubrificação íntima: estimulação!
Não pensem que é só esfregar o clitóris e ter 3 minutos de sexo oral que estaremos super excitadas.
Pensem que as preliminares acontecem muito antes disso.
Precisamos também ter uma mente erótica e estarmos abertas a receber estímulos.
Por esse motivo, o autoconhecimento sexual e comunicação com a pessoa com quem nos relacionamentos é importante.
Informar como gostamos, onde gostamos, é fundamental para que os estímulos sejam prazerosos o suficiente para nos excitarmos e iniciarmos nosso processo de lubrificação íntima.
Por último e não menos importante, dêem preferência aos lubrificantes íntimos a base d’água e neutros, pois com eles reduzimos as possibilidades de alergia, além de não romperem o preservativo como os à base de óleo e silicone podem fazer.
Entendam que os lubrificantes são nossos aliados e o mais importante é nos desconstruírmos diariamente para termos a cada dia mais prazer.
Na terapia sexual que ofereço te ajudo a ter pleno entendimento desse assunto como de outros assuntos envolvendo a sua sexualidade. Entre em contato abaixo e marque a sua consulta de avaliação onde iremos conversar por 1h e meia. Aguardo você no meu consultório virtual.
Se joga e goza!