Pode até parecer um título sensacionalista, mas não é. Para vocês, mulher casada pode ter vibrador?
Bom, vamos lá…
Um assunto que não deveria, mas ainda é tabu e polêmica: mulheres casadas que falam abertamente sobre sua vida sexual e uso de vibradores.
Algum tempo atrás, em seu canal no Youtube, Sabrina Sato reuniu convidados para falar sobre relacionamento e, consequentemente, o assunto sexo também foi abordado.
Sabrina contou que Juliana Paes lhe deu um vibrador de presente depois de conversarem e Sabrina se queixar que sua vida sexual não estava como antes depois de ter tido sua filha.
Isso é muito comum e compreensível.
A quantidade de mudanças que uma mulher sofre quando se torna mãe é significativa.
O uso de vibradores e produtos eróticos podem ajudar, significativamente, casais e principalmente as mulheres a se reconectarem com sua intimidade e prazer sexual.
Mas o que de fato me espanta é saber que, em plano 2024, mulheres são julgadas diariamente por expressar livremente sua sexualidade.
Falar sobre suas experiências e trocar experiências publicamente traz à tona o quanto mulheres podem reproduzir o machismo ainda enraizado e o quanto devemos democratizar o assunto e praticar a sororidade.
Em resumo, sororidade diz respeito a um comportamento de não julgar outras mulheres e, ainda, ouvir com respeito suas reivindicações.
A sororidade é um movimento importante, pois é preciso desconstruir a rivalidade que foi colocada para as mulheres e, no lugar de tal rivalidade, pautar um sentimento de união.
Ao acolher uma mulher que fala de sexualidade e suas queixas, a gente ajuda tanto ela quanto outras mulheres.
Julgar uma pessoa, e nesse caso uma mulher, porque ela falou publicamente sobre ter ganhado um vibrador de presente, nos mostra como as pessoas ainda não sabem o básico sobre sexualidade e prazer sexual.
Além disso, nos mostra como devemos desconstruir também o machismo reproduzido por mulheres.
Notei diversos comentários pejorativos em relação a Sabrina Sato, pelo fato de ser uma mulher casada e falar publicamente sobre o assunto.
Comentários como: “Quer mídia, fica feio até para o marido dela”, “Mulheres que têm marido falando em vibrador! É para acabar mesmo com os maridos. Tanta coisa para falar nesse momento e ela vem falar de vibrador, aff”, “Kd o marido? Não tá servindo?” "Kd o marido, já não está dando conta do recado”.
Esses comentários foram feitos por outras mulheres e vocês podem ver em meu Instagram, inclusive.
O que me espanta é justamente o fato de serem mulheres que sabem na pele o que nós mulheres passamos em relação a nossa sexualidade, corpo, assédio, etc. julgando outra mulher e julgando pelo fato de ser uma mulher casada.
Além disso, notamos que o tempo inteiro, nesses comentários, não se fala sobre as dificuldades sexuais que Sabrina passou, ou ainda passa, mas uma “preocupação" com o marido de Sabrina.
Se ele está “dando conta”, duvidando de sua masculinidade e performance sexual ou que é falta de respeito com ele, ela falar sobre isso.
É notável o quanto a sociedade e, pasmem, as mulheres ainda são falocêntricas.
Mulheres que acham que nosso prazer depende e gira em torno de um pau.
Eu não fico triste pela Sabrina, pois ela de alguma forma demonstra buscar formas de melhorar sua vida sexual.
Eu sinto na verdade é pena das mulheres que acham que para sentir prazer e ter uma vida sexual plena, dependem única e exclusivamente dos homens.
Esses comentários vêm para reforçar o que já falei em textos anteriores aqui e em minhas redes sociais sobre a falta de autoconhecimento sexual.
Mulheres que se conhecem sexualmente, sabem sentir mais prazer, chegar ao orgasmo e dividir o prazer com a pessoa com quem se relaciona, mas não terceirizar a responsabilidade de ter uma boa vida sexual.
Mulheres que se conhecem, entendem que vibradores e produtos eróticos são aliados e ajudam o casal a ter mais intimidade, cumplicidade e abertura para experimentarem coisas novas e aumentarem seu repertório sexual, a fim de sair da rotina e ter sempre estímulos novos.
Meu questionamento é se essas mesmas mulheres que julgaram Sabrina sabem o que é gozar. Se elas entendem que nosso gozo e prazer é nosso.
E que se ele é sentido por nós, cabe a nós procurar a melhor forma de sentir sem depender do outro.
Me questiono se essas mulheres são felizes e se sentem que podem ir além em seu prazer sexual.
Se elas já tiveram alguma dificuldade sexual, onde precisaram de ajuda e não foram acolhidas e receberam como orientação ter relações a todo custo, para que seus parceiros não as largassem ou procurassem “outra na rua”, se elas ouviram que é assim mesmo e que homens gostam mais de sexo e que nós mulheres devemos fazer assim mesmo.
Não posso ser leviana de diagnosticar alguém sem antes atender e entender seu contexto de vida e sexual, mas é bem provável que as mulheres que julgaram Sabrina, e que julgam outras mulheres livres, são mulheres infelizes do ponto de vista sexual e até mesmo afetivo.
Esse texto de hoje é para mostrar que ainda temos um longo caminho para a desconstrução do machismo e do prazer livre de culpa e julgamentos.
Um desabafo de uma mulher e profissional da sexualidade que diariamente encara estas situações e que em alguns momentos se desanima com comentários como os mencionados.
Desejo que cada vez mais mulheres saibam o potencial de prazer que têm e que elas descubram sua autonomia sexual.
Que mulheres casadas também tenham essa autonomia e liberdade para expressar para seus companheiros suas dificuldades e que juntos se permitam buscar ajuda para melhorar, pois a melhoria reflete em toda a dinâmica familiar.
Quando as pessoas entenderem que sexualidade é energia de vida e faz parte de todos nós, e que nossas práticas sexuais não definem nosso caráter e quem somos, teremos um mundo mais leve.
Se desprendam do tabu e do machismo que julga, aponta e aprisiona mulheres.
Machismo esse que faz com que casais não vivenciem o ápice do prazer em suas relações.
Venham para o lado gostoso do mundo dos brinquedos eróticos, dos vibradores e do lado gostoso, que é o lado orgástico da vida.
Se joga e goza!