Nesse post, vamos falar sobre penetração… é mesmo primordial?
Quem me acompanha nas redes sociais e até aqui nos textos do blog, já sabe o quanto falo sobre a importância da masturbação, principalmente para as mulheres.
Esse é um assunto recorrente, importante, e sempre que possível será abordado por mim.
Eu já acreditava na masturbação, até mesmo antes de eu sequer pensar em trabalhar com sexualidade.
Sempre entendi que o nosso corpo é de único e total direito nosso e, assim sendo, podemos fazer o que bem quisermos com ele, desde que não nos machuque ou coloque em risco. E isso inclui a masturbação.
Como sempre, abordo o assunto e levo as discussões sobre sexualidade para as minhas redes sociais. E em um post recente falei sobre a importância de se tocar, se conhecer e entender seu prazer, até que me deparei com um comentário que dizia:
“Masturbação é ilusão. Não substitui a penetração”.
Se masturbar é “fazer sexo com a pessoa mais importante da sua vida”: você!
Li, respirei antes de responder, afinal vamos entender melhor…
Em nenhum momento eu disse que substituiria. Disse que é importante e que se masturbar é “fazer sexo com a pessoa mais importante da sua vida”, que é você.
Fiquei reflexiva sobre o fato de quererem a todo custo controlar até a maneira que gostamos de sentir prazer ou de nos tocarmos.
Esse tipo de comentário vem de uma pessoa que provavelmente ainda não entendeu e nem deve vivenciar a autonomia do seu prazer sexual e, infelizmente, é um comentário muito comum.
Nos meus atendimentos, um dos trabalhos que mais faço quando alguém me procura com alguma queixa relacionada a sexualidade, é explicar de modo didático, e de fácil compreensão, o que significa sexualidade, sensualidade e sexo.
Eu digo que esses 3 s’s são os pilares, para que as pessoas que vêm com crenças e conceitos equivocados aprendam e se permitam vivenciar cada um desses conceitos na prática, em sua vida íntima e em seu relacionamento.
Sexo vai muito além da penetração!
Entendendo isso, as pessoas passam a perceber que sexo vai muito além da penetração e que ela é apenas mais um meio de se obter prazer.
Também entendem que a sexualidade saudável depende muito de como você se relaciona afetivamente e como é sua relação consigo mesma.
Uma pessoa com boa autoestima e que entende conceitos básicos da sexualidade, consegue perceber que a autonomia do prazer pode contribuir positivamente em suas relações sexuais.
Ter autonomia sexual e de prazer significa entender o que gosta, como gosta, seus desejos e limites.
Ser autônomo, do ponto de vista do prazer sexual, não significa descartar as pessoas e as relações sexuais com alguém.
Na verdade, essa autonomia vai fazer com que as pessoas possam, inclusive, interagir melhor sexualmente, entendendo a si e percebendo as reações do outro.
Essa mesma autonomia aumenta a capacidade de se posicionar quando uma transa não está tão boa ou passando dos seus limites.
Me peguei pensando em como o machismo afeta todos nós e como o pênis é o centro das atenções, o quanto as mulheres também estão condicionadas ao sexo “meteção”.
Ao ter a pornografia como referência, não temos ideia de autonomia.
Existe ali um padrão de repetição que faz com que as pessoas repitam aquilo, achando que é daquela forma que se faz sexo e se tem prazer.
Os homens sempre retratados com pênis enormes, que sempre penetram de modo repetitivo e forte, e mulheres sendo penetradas gemendo e fazendo caras e bocas, que às vezes causam dúvidas se aquilo é de fato prazer ou dor.
Na pornografia não vemos interação com intimidade e exploração do corpo no sentido de descobrir possibilidades de prazer.
Raramente vemos um oral ou um estímulo no clitóris de modo prazeroso.
Quando vemos tais estímulos, são sempre de modo bruto, repetitivo e que não levam em consideração as particularidades de cada pessoa.
Dessa maneira, tendo esse tipo de conteúdo como referência e sem se permitir ler, falar, discutir e entender a sexualidade, homens e mulheres seguem acreditando que o prazer sexual existe somente por meio da penetração com um pênis.
E com isso, temos mulheres que terceirizam seu prazer, entregando de bandeja na mão de seus parceiros toda a responsabilidade do seu prazer e do seu orgasmo.
Não é a toa que grande parte dos casos de anorgasmia (ausência ou dificuldade de chegar ao orgasmo) que atendo são de mulheres que não se masturbam e que acreditam que os homens têm a obrigação de fazê-las chegar ao orgasmo.
Atendo diariamente mulheres que, literalmente, não sabem ao certo o que é o clitóris, lábios internos, externos e que acham que vagina é todo o conjunto.
Essas mesmas mulheres, que não sabem diferenciar vulva de vagina, ou a importância do clitóris para o prazer feminino, são as mulheres com dificuldade para sentir prazer e chegar ao orgasmo.
A penetração pode ser muito importante para o homem e a mulher, mas é importante também saber que sexo não se resume a isso.
O toque, o cheiro, o beijo, entre outras coisas que envolvem o contato, podem ser muito prazerosos.
Além disso, o clitóris tem cerca de 8 mil terminações nervosas e sua única função é proporcionar prazer à mulher.
Ele proporciona prazer, seja estimulando externamente ou indiretamente por meio da penetração.
Esse tipo de pensamento ainda é recorrente também pelo tabu que é o sexo e a masturbação feminina.
Aprendemos que para termos prazer sempre dependeremos de alguém, e ter o nosso próprio orgasmo, do nosso jeito, como gostamos e no nosso tempo, é errado.
Errado, na verdade, é querer controlar nossos corpos e prazer e, a todo custo, querer interferir em nosso gozo.
Quero dizer que uma coisa não anula a outra.
Você pode e deve se masturbar, e pode sentir prazer, seja penetrando ou estimulando somente a parte externa.
Mas permita-se tocar, conhecer e gozar, pois o orgasmo é certo para quem se permite.
A masturbação, o vibrador, os produtos e acessórios não substituem o afeto e, muito menos substituem, as pessoas.
Não estamos em uma competição masturbação x sexo com alguém com penetração.
Na verdade, trabalhando o autoconhecimento e autonomia sexual, melhoramos nossas relações e prazer e entendemos que ninguém é tão responsável pelo nosso prazer como nós mesmos.
Se joga e goza!